quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Pessoas de papel

Há alguns dias li o livro Cidades de Papel de John Green, aclamado escritor do best seller "A culpa é das estrelas", exemplar ainda não lido. Uma leitura rápida e gostosa, no estilo ler para espairecer. Nada complexo, diria que até presumível. Green tem um estilo despojado, com algumas pitadas de pegadas filosóficas existenciais, voltado para um público mais jovem, constituindo mais do mesmo acerca de muitas questões clichês, provavelmente nada muito diferente do que você já tenha lido ou escutado em algum momento de sua vida.
Cidades de Papel conta a história de um adolescente apaixonado por sua vizinha linda e popular. Dias antes da formatura da escola a menina desaparece, deixando pistas de uma suposta fuga programada. A história se desenrola na busca pela menina e entre questionamentos típicos de adolescentes, como a futilidade no meio escolar, os problemas existenciais e familiares e a busca por uma identidade própria. Mas uma questão levantada por Green me fez refletir. Ele usou a expressão pessoas de papel para representar a vida que muitos levam. Pessoas de papel seriam aquelas pessoas que passam a vida dentro de formatos pré-estabelecidos. Seja pela família, pela sociedade ou grupo em que vivem. Tal expressão me remeteu a uma expressão muito utilizada na faculdade de direito: o papel aceita tudo. E assim são as pessoas de papel. Aceitam tudo que lhes é imposto, como em um roteiro de novela, em que cada personagem já tem seu destino previamente estabelecido. E o que é pior, esse destino somente muda conforme a opinião pública.
Quantas vezes nos sentimos assim, pessoas de papel, em cidades de papel, em empregos de papel, em relações de papel? Mais do que gostaríamos, com certeza. No livro, a solução para essas pessoas de papel foi a fuga, a tentativa de recomeçar longe dos roteiros, dos personagens que as rondavam, das situações que não faziam sentido ou que não traziam nenhum valor significativo.
Na vida real a solução parece ser a mesma, com exceção da fuga, posto que fugir não é o melhor caminho. Afastamento sim, porém não antes do enfrentamento. O enfrentamento às vezes pode ser dolorido, mas no fim das contas é libertador. Enfrentar nossos medos, nossas dificuldades, nossas verdades mais escabrosas, nossos pensamentos mais insanos, nossos dissabores e desencontros, nossos inimigos mais íntimos, os defeitos mais criticados.
Estarmos lúcidos de tudo o que não queremos mais, para somente depois deixar de lado tudo que não nos é valioso, tudo que não é feito com carinho, afeto e respeito. Afastar-se do que não nos traz bem estar, do que parece não fazer sentido ou que nos faz questionar incessantemente: "até onde tudo isso vale a pena ?". Enfrentar e afastar. Atitudes essenciais para não nos sentirmos assim, de papel.
Que o papel nos traga somente a percepção de coisas boas: um bom livro, uma carta de amor, um poema perdido em um guardanapo, um bilhete no final do dia. Porque o papel aceita tudo, sim. Cabe a você diferenciar o que vale a pena ou não. 


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Saudade sem fim

O ano já começou, janeiro já finda e a sensação de que o tempo nos engole renova-se a cada passar de hora, de dia, de semana. A correria e esse nonsense virtual dos dias atuais, aliados à manifestações de pessoas próximas (mesmo que virtualmente aliás) a respeito da saudade e da dor que ela causa me fizeram refletir acerca do que eu sinto mais saudades nos dias atuais.
Nostalgia dos tempos em que férias de verão duravam 3 meses, os feriados de Natal começavam no primeiro dia de dezembro, as aulas somente em março. Saudades da ausência de preocupações que não as de brincar muito, não fazer nada, aproveitar cada raio de sol, tomar sorvete com coca sem peso na consciência, passar o dia na piscina e não se preocupar se o fator do protetor solar dava conta.
Saudades de quando as estrelas eram vistas de madrugada deitada no chão frio, quando um olhar significava mil palavras, quando declarações de amor e de amizade eram feitas com música da Legião.
Sinto falta das horas de leitura em silêncio mútuo, do compartilhar medos e angústias olho no olho, sem nenhuma "curtida". Compartilhar, inclusive, significava uma troca: compartilhavam-se livros, cds, revistas, um vestido bacana, uma calça diferente. O que era meu e você gostava, era seu também. Saudades de tirar uma foto e ter a expectativa em saber como ficou até a hora da revelação. Essas realmente captavam o espírito da coisa, e não biquinhos, poses e cabelos do mesmo lado, padronizados em cliques pré-concebidos e editados.
Saudades em aguardar uma carta, olhar a caixa de correio todos os dias e rasgar o envelope em completo êxtase. Saudades de gente que abraça, gente que chora, que ri e que te critica de frente, pra depois oferecer um colo e um afago, compartilhando afeto e não links.
Saudades de mais conversas francas, com tons de voz em diferentes escalas, mãos que falam, e não em letras em caixa alta. Sinto falta de tudo que me era dito, cantado, silenciado, dividido sem precisar pedir, solicitar, exigir. Saudades das minhas amigas amadas, que se reconhecem em mim, como nelas eu me reconheço e me reencontro, mesmo que a longas distâncias, muitos meses ou anos já passados. Saudades de mim mesma quando com elas dividia o meu melhor e também os meus defeitos. Saudades enfim. Uma dor que aquece, pois traz a memória à tona e com isso revivo sentimentos, sensações e certezas que permanecem por aqui, bem fundo no peito. E como já andei dizendo
 A saudade é a falta potencializada
Impregnada em memórias e lembranças
Amizade que o coração alcança
Mesmo que os braços para os abraços
Permaneçam distantes.


Minha saudade é todinha de vocês.