Há alguns dias li o livro Cidades de Papel de John Green, aclamado escritor do best seller "A culpa é das estrelas", exemplar ainda não lido. Uma leitura rápida e gostosa, no estilo ler para espairecer. Nada complexo, diria que até presumível. Green tem um estilo despojado, com algumas pitadas de pegadas filosóficas existenciais, voltado para um público mais jovem, constituindo mais do mesmo acerca de muitas questões clichês, provavelmente nada muito diferente do que você já tenha lido ou escutado em algum momento de sua vida.
Cidades de Papel conta a história de um adolescente apaixonado por sua vizinha linda e popular. Dias antes da formatura da escola a menina desaparece, deixando pistas de uma suposta fuga programada. A história se desenrola na busca pela menina e entre questionamentos típicos de adolescentes, como a futilidade no meio escolar, os problemas existenciais e familiares e a busca por uma identidade própria.
Mas uma questão levantada por Green me fez refletir. Ele usou a expressão pessoas de papel para representar a vida que muitos levam. Pessoas de papel seriam aquelas pessoas que passam a vida dentro de formatos pré-estabelecidos. Seja pela família, pela sociedade ou grupo em que vivem. Tal expressão me remeteu a uma expressão muito utilizada na faculdade de direito: o papel aceita tudo. E assim são as pessoas de papel. Aceitam tudo que lhes é imposto, como em um roteiro de novela, em que cada personagem já tem seu destino previamente estabelecido. E o que é pior, esse destino somente muda conforme a opinião pública.
Quantas vezes nos sentimos assim, pessoas de papel, em cidades de papel, em empregos de papel, em relações de papel? Mais do que gostaríamos, com certeza. No livro, a solução para essas pessoas de papel foi a fuga, a tentativa de recomeçar longe dos roteiros, dos personagens que as rondavam, das situações que não faziam sentido ou que não traziam nenhum valor significativo.
Na vida real a solução parece ser a mesma, com exceção da fuga, posto que fugir não é o melhor caminho. Afastamento sim, porém não antes do enfrentamento. O enfrentamento às vezes pode ser dolorido, mas no fim das contas é libertador. Enfrentar nossos medos, nossas dificuldades, nossas verdades mais escabrosas, nossos pensamentos mais insanos, nossos dissabores e desencontros, nossos inimigos mais íntimos, os defeitos mais criticados.
Estarmos lúcidos de tudo o que não queremos mais, para somente depois deixar de lado tudo que não nos é valioso, tudo que não é feito com carinho, afeto e respeito. Afastar-se do que não nos traz bem estar, do que parece não fazer sentido ou que nos faz questionar incessantemente: "até onde tudo isso vale a pena ?". Enfrentar e afastar. Atitudes essenciais para não nos sentirmos assim, de papel.
Que o papel nos traga somente a percepção de coisas boas: um bom livro, uma carta de amor, um poema perdido em um guardanapo, um bilhete no final do dia. Porque o papel aceita tudo, sim. Cabe a você diferenciar o que vale a pena ou não.
Um blogue onde a Língua Portuguesa é bem tratada prende sempre a minha atenção. É o caso deste interessante "Comedora de Palavras".
ResponderExcluirParabéns!
Obrigada! E seja muito bem vindo!
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