Hoje cedo a primeira música que eu ouvi quando liguei o rádio na cozinha (sim, pois mesmo nessa era de IPod, celular que canta e tudo o mais, eu ainda tenho por hábito escutar música no rádio, principalmente de manhã) a letra da música, numa livre tradução minha, questionava "você ainda irá me amar quando eu não for mais jovem e bonita?". A música é de Florence Against The Machine, belíssima por sinal, a cantora e a música, e que me fez ficar pensando a respeito dos amores, do passar do tempo e do que você deve realmente levar dessa vida. E quando digo levar dessa vida não estou me referindo ao momento em que iremos passar desta para uma melhor. Mas sim do que devemos levar enquanto somente sabemos que o hoje é nossa única certeza e que por isso mesmo devemos ter a noção de que o que estamos oferecendo aos nossos amores no tempo presente é o que devemos dar de melhor.
A beleza e a juventude podem ser sinônimos de alegria, satisfação e prazer até um certo ponto de nossas vidas. Mas e depois? O depois é que precisa ser salvo. Porque quando os corpos já não tiverem o mesmo frescor e vigor, quando a pele já não for mais lisinha, quando os movimentos já estiverem limitados e os cabelos escassos ou branquinhos, o que você terá levado para o amanhã?
Já escutei ou li uma frase, mais ou menos assim: que depois de uma certa idade, o que sobra de melhor para um casal é ter o que conversar.
Acrescento ao ter o que conversar o rir de si mesmo. O bom humor, o carinho mútuo, o respeito ao silêncio e ao isolamento do outro. A necessidade em ficar só e deixar o outro só também, pois cada um necessita de um pouco de individualidade, de liberdade em estar sozinho, recompor-se consigo mesmo para depois retornar renovado ao "nós".
É preciso uma boa dose de paciência, compreensão e compaixão. Interessar-se genuinamente pelos gostos e prazeres do outro, mesmo que estes não sejam os seus favoritos. Estar atento à mudanças de humores, para se afastar se preciso for ou abraçar se acaso ele necessitar.
Ter intimidade suficiente para não ter que preencher o silêncio com palavras ao vento. Conhecer cada parte e cada pontinha de pele, para poder proporcionar os carinhos e os prazeres indispensáveis. Conhecer sua cor favorita, seu prato predileto e nunca esquecer que camisa de bolinhas ele jamais vai usar, que amarelo queimado não fica bem em ninguém e que às vezes ele não vai entender a sua necessidade em falar tanto, gesticular com as duas mãos, falar ao telefone enquanto cozinha e escutá-lo enquanto dá atenção ao seu filho ou ao cachorro.
Porque é a boa convivência que nos torna eternos amantes, independentemente de corpos sarados ou não, de cabelos brancos ou pele enrugada. É o formar um família, dividir um lar, uma cama, um banheiro, é ouvir um desabafo, ganhar um afago, dividir angústias, tristezas e alegrias, educar um filho, almoçar junto no domingo, discordar, ceder, recordar, perder, ganhar. É o viver tendo a certeza do apoio, do puxar a orelha quando necessário, da verdade franca nas horas difíceis, do riso e das gargalhadas. Do estar juntos só por estar, sem pressa, sem cobranças.
O amor é um sentimento vivo, em eterna construção e descontrução, aceita reformas, perdas e reparos. Mas precisa ser cuidado, sempre. E ainda que a beleza seja fundamental, como já disse o poeta, quando essa se for só ficará o amor que você nutriu e dispensou através dos gestos e dos cuidados, do conhecer-se a si mesmo e ao seu amor profundamente e do gosto por estar ao lado de uma pessoa que consegue ser linda por inteiro, independente das marcas que o tempo deixar nele.
Preserve seu bom humor, seu carinho, seu braços sempre abertos para um abraço, seus ouvidos sempre atentos para conversas e sua palavras sempre presentes. Tudo isso é imune à passagem do tempo e ainda que não tão jovem ou tão bonita, terá levado o seu melhor para o amanhã com seu amor.
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