terça-feira, 29 de outubro de 2013

Da paixão

Recentemente li o livro "A condição indestrutível de ter sido"  da Helena Terra. A história de uma paixão fulminante, avassaladora, cortante e dilacerante, como várias as histórias de amor que um dia já vivemos ou, para aqueles que preferem esquecer, o que um grande amigo já viveu. O desenrolar de uma história sem final feliz, sem o "e viveram felizes para sempre", sem cavalo branco ou casamento de final de novela das oito. Real e dolorida, como só uma história de um amor não correspondido consegue ser.
Uma personagem voraz em viver uma paixão, em realizar seus desejos, em entregar-se por inteiro, de corpo, de alma e de mente. Porque é assim que nos perdemos nos amores já tidos perdidos. Na entrega incondicional, no confessionário de fraquezas e na propagação de atos impensados e mal entendidos.
Quem nunca se viu entregue a um sentimento maior que toda a sensatez e racionalidade somente obtidas enquanto ausente o bater descompassado de um coração apaixonado?
Quem nunca entregou-se achando estar já entregue o coração da outra parte? Quem nunca alimentou-se da espera do toque de um telefone, de uma mensagem na caixa de entrada, de um cruzar de olhares mesmo que fugaz?
Quem nunca passou horas a conjecturar encontros "ocasionais", conversas que jamais existiram, passeios que nunca se realizaram, sonhos que nunca foram concretizados, palavras que nunca foram escutadas, somente imaginadas nos mais infinitos graus de loucura delirante apaixonada?
Porque uma paixão faz isso. Ela nos leva a delirar, a ter ciúmes doentio, a travar guerras sentimentais, a nos humilharmos por um pouco mais de atenção ou de poesia nos atos do dia a dia. Ela nos fere na ausência do carinho, do não entrelaçar de dedos, do não sentir-se correspondida em todos os aspectos viscerais que somente uma paixão unilateral consegue basear-se.
Helena Terra nos mostra toda a face nua e crua de um ser em ebulição, de um ser irracional e por vezes insensato ou até mesmo cruel consigo mesmo, um ser que qualquer um de nós já tornou-se quando envolvido na ciranda de uma paixão não correspondida.
 E para aqueles que lendo isso consideram-se superiores porque imunes a tudo o que foi exposto, meus sentimentos. Pois somente quem já entregou-se assim conhece a si mesmo de forma completa, com suas faces mais obscuras e as reconhece e as domina e convive com elas. Porque o reconhecer-se humano passa invariavelmente pela seara das paixões que um dia poderiam ter sido um grande amor.

Um comentário:

  1. Oh, Claudinha, que leitura bacana, intensa e honesta a sua!
    Adorei a resenha!
    Obrigada :)
    Beijosss

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